quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quando o telefone toca

Estava a ressonar muito bem perdão, a dormir muito bem, quando começo a ouvir ao longe o telefone a tocar (não era bem ao longe, pois tenho o telefone na mesinha de cabeceira).
Resolvi não atender, pois às 3 da manhã de certeza que não é nada de importante, tipo sondagens, Zon tv cabo ou coisa parecida. Virei-me para o lado, aconcheguei-me à minha querida marida e voltei a ressonar, perdão a dormir.
Passados não sei quantos segundos tocou outra vez o telefone.
É melhor atender, ainda acorda a minha querida marida toda chateada a resmungar que estou a ressonar cada vez mais alto.
- Tou? disse eu.
- Olha pá, estamos a acabar o plano de austeridade, mas estamos com algumas dúvidas e queríamos a tua opinião. Achas que entre 75 e 80 mil milhões chega?
- ? ? ? ? - disse eu (não sei como consegui dizer os pontos de interrogações). Deixe-me pensar um instante.                          . Se calhar...  se calhar não, certamente que o meio termo é o melhor. 78 mil milhões.
- 78!!! disse ele espantado. Mas o meio seria 77,5 e não 78.
- Não percebe nada. disse eu com um voz acirrada, mas baixa para não acordar a minha querida marida. Vem para cá à três semanas e acha que já sabe muito deste país. Está-se a esquecer das cunhas, comissões, sacos azuis e afins. Os 0,5 mil milhões devem chegar para isso senão, renegoceia-se.
- Tens razão, disse ele com uma voz subjugada. Quanto a medidas, alguma sugestão?
- Simples. Mandas vender o BPN, nem que seja por três rebuçados sem açúcar, dizes que nem queres ouvir falar em TGVs e aeroportos em Lisboa. Manténs os subsídios de férias e Natal. As reformas mais baixas não as baixas mais, as reformas mais altas não as sobes mais. Em cada fronteira pões uma tabuleta luminosa (para se ver bem, até à noite) " Em saldo". 
- Ó Dominique, concordo com tudo, mas essa da tabuleta luminosa não gostei. A electricidade que se iria gastar e a conta da luz. Bem que não chegavam os 78 mil milhões só para pagar a factura eléctrica...
- Mas eu não me chamo Dominique. disse-lhe.
- ?! Não estou a falar com Dominique Strauss-Kahn, presidente do FMI?
- Não.
Por breves instantes ouvi um silêncio aterrorizador até que, com uma voz trémula, ele disse:
- desculpe, foi engano.

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