- Sabes Rosário, tudo isto que
estás a ver foi o meu filho que fez. - Disse a Margarida com uma voz plena de
orgulho.
- Fez?!! Mas o quê?? – Respondeu
com um tom de voz de quem não percebeu nada.
- Tudo o que vês neste jardim, a
relva, as árvores, este caminho, as pessoas, a Torre dos Clérigos, tudo. -
Disse ainda mais orgulhosa a Margarida.
- Estás a brincar comigo. Como é
isso possível? - Bastante incrédula perguntou a Rosário.
- Sabes, a Câmara Municipal do
Porto encomendou ao meu filho a reestruturação deste jardim e ele, ainda se
ofereceu para construir uma nova Torre dos Clérigos, já que a original foi
vendida aos chineses. – encheu os pulmões e de rajada disse – Este caminho foi
feito com escamas de peixe, colou-as uma a uma. A relva do jardim são palitos
que ele pintou de verde e enterrou-os na terra, um a um. Mas fez de uma forma,
que quando está vento, eles ondulam. As oliveiras, são vassouras de varrer que
ele, com um canivete, moldou-as até ganharem aquela forma. As pessoas que vês
no jardim são feitas com pasta de papel, mas por dentro tem um elaborado
sistema de engrenagens que permite o movimento delas, comportam-se como se
fossem mesmo pessoas de verdade. Este candeeiro à nossa beira, foi feito com
fósforos, colou-os um a um, de noite acende, pois ele apanhou pirilampos e
colocou-os em vez da lâmpada. Mas o que eu mais gosto é da Torre dos Clérigos.
Foi toda feita com legos. Ainda se vê o guindaste que lhe chegava os legos
quando ele estava lá em cima quase a acabar a torre.
Era notória a emoção na sua voz,
parecia mesmo que estava a falar do melhor filho do mundo. Já a sua amiga
Rosário, com inveja ou não, não partilhava do mesmo sentimento.
- Sabes Rosário, o teu filho
também não te disse que aquela namorada toda escultural que ele tem, era uma
boneca insuflável que ele adaptou?