- Zezé, chega um bocadinho mais para trás. - disse ela com uma voz meia e doce.
- Mas Carlota, assim ainda caio por este abismo abaixo. - disse ele com uma voz temerosa.
- Se não fores mais para trás, não te consigo enquadrar com aquele grifo que está majestosamente a planar. E eu queria uma fotografia tua com o grifo para enviar ao João Menéres a desejar rápidas melhoras.
Muito receoso, o Zezé lá fez a vontade à sua recém esposa e deu três passos à retaguarda.
- Tens de ir mais para trás, mais, mais... - insistiu a Carlota.
- Ó Carlota, mas está ali uma casca de banana, ainda escorrego e caio.
- Não te preocupes, essa casca está seca, não escorregas nada, despacha-te. - já se notava a impaciência na voz de Carlota.
- Olha, a rocha está cheia de musgo escorregadio, ainda vou pela encosta abaixo. -disse o Zezé amedrontado.
- Não te preocupes, quando fui comprar esses sapatos, na loja garantiram-me que com essa sola não se escorrega. - disse ela, já muito impaciente.
- Carlota, meu amor, olha que ainda não alterei o meu testamento, não tive tempo, não estás incluída nele como minha principal herdeira.
- PÁRA ZEZÉ. Olha que ainda escorregas. As pessoas são muito porcas ao deixarem aqui as cascas de bananas, e o Estado!!! É uma tristeza, não cria caminhos para que as pessoas possam andar. Temos de caminhar pelas rochas cheias de musgo, sujeito a escorregarmos e a cairmos mais de 700 metros. Vamos embora, compro um postal em Freixo de Espada a Cinta e envio ao João Menéres a desejar rápidas melhoras.